Futebol amador promove o protagonismo feminino

Apesar da modalidade, ainda, ser vista como prática masculina, mulheres  estão cada vez mais ganhando espaço dentro dos campos em Curitiba, elas buscam lazer e bem-estar


O esporte é um  instrumento de inclusão social. (Foto: Angelita Aparecida Santana)

Nas quadras do Malla's Futsal nasceu o "Tigers Futebol Clube", time de futebol amador. Um grupo de mulheres, de Curitiba e Região Metropolitana (RMC), em sua maioria com mais de 30 anos, deixaram as arquibancadas para assumir o posto de protagonistas no campo. De um time corriqueiro, a iniciativa progrediu para uma atividade que busca trabalhar questões como motivação, empoderamento feminino, bem-estar e lazer.

A vontade surgiu quando assistiam os companheiros em jogos semanais. Logo elas passaram a marcar as partidas nos fins de semana com a intenção de desestressar e buscar uma melhor qualidade de vida. Com origens britânicas, o futebol foi absorvido pela cultura brasileira de forma tão profunda que passou a fazer parte da reputação do país junto com o carnaval, o chamado instinto de hospitalidade, a dança, as praias e a música. No entanto, com  a supervalorização do futebol masculino as mulheres acabam sendo invisibilizadas no meio. 

Ao chegar nas competições, muitas atletas apresentam comportamentos como: nervosismo excessivo, indiferença com a competição, entre outros. De acordo com o psicólogo do esporte Adriano França, é necessário ficar convencido que a preparação psicológica é uma tarefa constante. “É importante fazer tarefas de ordem psicológica durante uma parte do treinamento, porém isto não garante o desenvolvimento harmônico do atleta e da equipe”, explica.

A técnica em radiologia, Angelita Aparecida Santana, 42, foi a fundadora do clube. Ela conta que a prática trouxe inúmeros benefícios para a sua vida. “Trouxe melhoria na minha qualidade de vida, novas amizades, distrações no fim de semana, resenha com os amigos e família", fala. 

Angelita é natural de Inácio Martins, município localizado a cerca de  207 quilômetros da capital paranaense. Apaixonada pelo esporte desde pequena, já jogou diversos campeonatos representando a cidade natal. A inaciense afirma que sempre gostou de jogar bola, mas que por conta de questões pessoais, decidiu não dar continuidade. “Quando viemos [família] embora pra cá fiquei um tempo sem jogar pois não conhecia nada nem ninguém”, conta.

O futebol amador é caracterizado por não seguir à risca os padrões exigidos como o profissional. (Foto: Angelita Aparecida Santana)

O retorno às quadras contou com o apoio das irmãs e primas, apesar do pouco número de jogadoras na equipe, ela viu no time a oportunidade de promover o protagonismo. Percebendo os bons resultados, em 2018 abriu espaço para novos integrantes participarem das competições e assim surgiu o Tigers.

Atualmente o grupo conta com cerca de vinte pessoas. Para a autônoma Amanda Cristina da Costa, estar no time possibilitou uma qualidade de vida melhor,  tanto física quanto mental. No entanto, a jovem de 22 anos conta que o futebol feminino enfrenta diversas dificuldades, com a falta de investimento, visibilidade e pelo preconceito que as jogadoras sofrem por conta do machismo. Além disso, as mulheres são sempre questionadas quanto às suas capacidades físicas e técnicas. 

“As dificuldades são as mais previsíveis, você luta diariamente para quebrar esse rótulo de preconceito de que mulher não consegue e, não deveria está no lugar que quer. Aguentar e continuar de cabeça erguida para conquistar o que te faz bem e mostrar que você pode”, exprime Amanda.

Com pouco mais de um ano no clube, Costa  jogou uma vez para saber como seria, desde então passou a gostar e assim permaneceu. Segundo ela, não pretende parar nunca mais. “Me motiva a acabar com o sedentarismo, me ajuda na respiração, condicionamento físico, disciplina e convívio social”, relata.

Apesar da falta de recursos, as próprias atletas arrecadam fundos para o financiamento dos equipamentos, participação em torneios e locação de espaços para treinos. 

Para essas mulheres, o principal motivador é a paixão pela equipe e pelo futebol, que proporciona o desenvolvimento da comunidade a fim de expandir a sua valorização no contexto social.

Essa modalidade potencializa a integração social. Reunindo diversas equipes, o esporte alavanca não apenas a disputa pelo troféu, mas também fortalece os laços de amizade entres competidores e viabiliza a união dessas lideranças em busca de estratégias para resolução de problemas que são comuns. 

“Me apaixonei pelo futebol por ser proporcionado diversão, lazer e o direito de se sentir integrante nessa grande festa de confraternização e esportividade”, finaliza Amanda ao ser questionada sobre a integração social.


Por Felipe Reis


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