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(Foto: Antonio Scarpinetti/SEC Unicamp) |
Dois anos se passaram para que eu pudesse voltar. Rever os amigos, os colegas e os professores. Tudo parece ser tão novo como da primeira vez que estive aqui. Lembro do primeiro dia na Universidade, em que eu estava ansioso e com medo, sentia-me deslocado. Não sabia como seria, e nem tinha como saber.
Eu queria saber contar essa história. Não como nos jornais, como um conto que prendesse a atenção das pessoas e fosse contado em todos os lugares.
Eu queria poder escrever algo tão original que o motorista que dirige aquele ônibus amarelo lesse a minha história no jornal. E se identificasse. Tanto a ponto de lacrimejar e falar: “nossa, que história emocionante!” E, então, ele contaria para um passageiro, e depois telefonasse para a sua esposa e o filho para contar. Que todos para quem ele contasse se emocionassem muito e caíssem surpresos de vê-lo tão emotivo e empolgado.
Ah! Que minha história fosse como amor de mãe — que ensina, cria, luta, que não desiste em sua vida entre lágrimas e dificuldades. E que seu prêmio fossem seus filhos felizes.
Que um casal que estivesse distante há dois anos — o namorado bastante melancólico com a namorada, a namorada bastante eufórica com o namorado — , que esse casal fosse alcançado pela minha história nos corredores da faculdade. Ele leria para ela e, ela se sentiria expressa naquelas palavras.
- “Há anos que me sinto assim”, diz a namorada, num estado de empatia profunda.
- “E como se sente agora?”, pergunta o amado.
- “Estou me sentindo cansada. Desaprendi totalmente a sair de casa. Até o esforço de ter que interagir com outras pessoas está me deixando exausta.”
E quando alguém perguntar de onde tirei essa história linda [e triste], responderei que ela nasceu do que vivenciei. E da minha percepção de que algumas pessoas estão se sentindo esgotadas e que, em certa medida, perderam a habilidade de se comunicar umas com as outras.
Por Felipe Reis